"...Eu escrevo para nada e para ninguém. Se alguém me ler é por conta própria e auto-risco.. "

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Psicobiologia do Crack

O início da ação do crack acontece quase instantaneamente – em 5 a 10 segundos –, estimulando o sistema nervoso central, havendo o bloqueio da recaptação de dopamina, serotonina e noradrenalina e, em menor quantidade, acetilcolina, nas sinapses. No entanto, esses efeitos estimulantes se dissipam rapidamente – em 5 a 10 minutos –, e o usuário passa à intensa depressão do sistema nervoso central; nesse momento, dominado pela ansiedade e pela fissura, é levado à compulsão por uma nova dose. Alterações no sistema límbico e no lobo frontal também estão relacionados com a fissura.
A fissura causaria uma diminuição do metabolismo de glicose no cérebro, principalmente nas áreas corticais em usuários de crack. Com isso o consumo de açúcar durante a fissura reequilibraria o metabolismo de glicose no cérebro.
Há evidências de que o crack ative trajetos dopaminérgicos ligados ao núcleo acumbente.
A dependência de drogas induz a neuroadaptação cerebral, que altera a memória de estímulos associados ao comportamento de usar a droga. Regiões cerebrais associadas a excitação, comportamentos compulsivos, memória e integração de estimulos sensoriais são ativadas durante a exposição a estímulos relacionados a droga, os quais, por sua vez, estimulam a fissura.
A dopamina tem propriedades que induzem reforços positivos no centro de recompensa do cérebro. Usa-se a droga, vem uma sensação boa inicialmente e esse efeito passa, a dopamina é responsável pela vontade que o indivíduo tem de buscar novamente a droga para sentir o mesmo prazer. Ou seja, o individuo tem uma ação (usar a droga) recebe uma recompensa (grande sensação de prazer) e devido a ação da dopamina no cérebro ele vai atrás da ação novamente. Estímulo antecedente (usar a droga) – Reforço (prazer) – Estímulo Consequente (ir atrás de mais droga).
A serotonina tem influencia na liberação de dopamina (se tem bastante serotonina na fenda sináptica vai “puxar” mais dopamina para lá). Há indicações que quando se tem pouca serotonina na fenda e por conseqüência não se tem tanta dopamina, isso seria um dos responsáveis pela ocorrência da fissura nos dependentes de crack.

Zeni, T.C.; Araújo, R.B. O relaxamento respiratório no manejo do craving e dos sintomas de ansiedade em dependentes de crack - Rev Psiquiatr RS. 2009;31(2)

Zago, J.A. Craving e consumo de doce em pacientes dependentes de cocaína crack: um estudo clínico de observação - Psiquiatr. biol;10(1):9-16, mar. 2002. tab.

Araújo, R.B.; Oliveira, M.S.; Pedroso, R.S.; Miguel, A.C.; Castro, M.G.T. Craving e dependência química: conceito, avaliação e tratamento - J Bras Psiquiatr. 2008;57(1):57-63.

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