A menina saco de pancada

E mais uma vez Laura é vítima da covardia.

 Laura conheceu Leonardo, um cara que parecia legal.
 Ficaram um tempo, e logo uma relação foi se criando.

 Ele parecia uma pessoa boa, mais novo, um tanto imaturo e inseguro, Laura percebendo isto achou que eram características devido à pouca idade, via nele uma pessoa bacana.
 Com o tempo, as pessoas vão se conhecendo, e as máscaras caindo, ela começou a perceber alguns desvios de caráter dele, e ficou em dúvida em relação à sua índole, muitas vezes parecia que ele se alimentava da desgraça alheia, com roupante de bom moço servindo o mal numa bandeja, metaforicamente falando, contudo ela acreditava que aquilo poderia ser coisa da sua cabeça.

 Eles se gostavam, não havia dúvidas, Laura de Leonardo e Leonardo de Laura.
 Ele era carinhoso, a tratava muito bem, sempre buscando agradá-la e satisfazê-la.

 Com o tempo, as diferenças foram ficando evidentes, Laura uma mulher independente, não gostava da mania dele que querer prendê-la, aprisioná-la... Ele a sufocava.
 Quando saíam, ela procurava se divertir com os amigos também, e ele sempre a cercando, por ciúmes ou insegurança talvez, isso a incomodava de véras.
Ela não tinha a menor paciencia pra as constantes indagações deles, queria sempre lhe impor suas inseguranças, coisa que a incomodava muito, constantes questionamentos. Foi quando os problemas começaram a ficar latentes. Ela percebeu que ele não "combinava" com ela.

 No dia do seu aniversário, ele conseguiu acabar com sua festa.
 Ele, percebeu ela, tinha problemas com o álcool. Quando bebia se transformava em uma outra pessoa, uma pessoa horrenda, sem discernimento do certo ou errado, obsessivo, parecia que estava endemoniado, a dúvida era se eram problemas de ordem psicológica, espiritual ou sei lá o que.

 Na festa, ele bêbado, estava a incomodando, a sufocando, foi quando ela pediu um tempo e para que ele a deixasse aproveitar com seus amigos; Se ele fosse uma pessoa sensata, com o mínimo de discernimento, a atenderia, pelo menos momentanêamente, porém foi aqui que ele começou a ficar mais obsessivo e persecutório ainda, começou a segurá-la, agredá-la, e persegui-lá... no final da noite, os ânimos aflorados... deu-se uma briga tanto verbal quando física. Laura ficou desconcertada, descrédula do que teve de passar.
O começo do fim.
Laura pegou nojo dele.. não queria o ver nunca mais, foi um trauma este dia em sua vida.
Você sabe o que é pedir pra uma pessoa te deixar em paz e ela começar a te perseguir ainda mais, e ficar nesse cárcere por horas, vc ali com raiva de alguém e a pessoa te cercando, querendo impor sua presença... é massante, é abominável, é de uma lástima e de uma falta de auto estima terrivel. As pessoas quando exaltadas devem dar-se espaço para acalmar os ânimos, e não ficar procurando resolver a situação ali na hora, no calor dos fatos, pelo menos esta é a minha opinião.

 Depois disso Laura pensou que nunca mais queria o ver... estava já saturada disto, dele, e de seu comportamente. Com vergonha de tudo que teve de passar.
 Alguma coisa de errado tinha com Leonardo, não sabia-se se ele gostava de mais de Laura e por isso fazia essas coisas, por medo de perdê-la ou descontrole emocional, ou por outros motivos... Laura procurava entendê-lo, contudo quando vitimizamos as pessoas, acabamos tirando suas parcelas de culpa, que sempre existem, ninguém é ruim apenas por culpa dos outros, de sua criação, de seu ambiente social, enfim, todos tem uma parcela de culpa individual... a vida é sempre feita de escolhas, e podemos optar por ser pessoas boas apesar de tudo que nos inculcam ou não.

 No final de semana seguinte, eles se encontraram em uma boate, ele já com outra.
Laura ficou triste, mas sabia que a vida é assim, alta rotatividade, enquanto que um dia anterior as pessoas se declaram apaixonadas, amando, no dia seguinte já estão com outras. Ela ficou triste, mas sabia que isto seria o melhor pra ela... se manter longe dele, visto que ele era uma pessoa com problemas, que não acrescentava nada de bom à ela.
 Um garoto sem metas de vida, que cresceu em um ambiente pobre de cultura, educação e afins...
 No dia seguinte, se encontraram em outra balada, ela já com uma outra postura, o vendo com irrelevância..
percebeu que ele não era o melhor pra sua vida, que não agregaria em nada, já não se importando mais, decidiu seguir sua vida em frente. Libertou-se, ou pelo menos, estava tentando.
 Já ele, por estar só, começou a perseguí-la novamente. Laura o ignorou, estava aproveitando sua noite dando possibilidades ao acaso, até que a altas horas de balada transcorrida, viu que Leonardo não estava bem, passando mal, seja por estar álcoolizado ou drogado, formas de fuga que ele usava quando estava com problemas, como todos; Foi quando teve a estúpida idéia de o ajudar, se prontificou de levá-lo para casa por consideração à tudo que haviam vivido.
 Neste deslize, é como dizem, pessoas espertas se aproveitam da bondade de pessoas boas.  E foi o que aconteceu.
 Leonardo, usando de sua cara de pessoa inocente foi se adentrando mais uma vez na vida dela. Ardiloso, fazendo juras e declarações de amor.
 Laura, constantemente se questionando se aquilo era certo, foi se deixando levar pela situação, mas a toda hora pensava que aquilo, os dois, não daria em nada, não era pra ser, mas foi deixando-se levar. Sentia-se presa a ela, como se não conseguisse se afastar de Leonardo. Tenho minhas dúvidas se o grande culpado disto tudo não é a famosa: Carência.
  Foi quando, mais uma vez, essa menina inconsequente foi vítima de mais uma convardia.
 Quando os dois, no apartamento dela, estavam passando o final de semana, ele pediu para visitar um amigo, ela concordou, e apenas pediu para que ele não bebesse, pois já sabia que ele mudava de comportamento se o fissesse. Ele foi ao encontro do amigo...
 Horas se passaram, quando Leonardo liga para Laura e ela percebe que ele está bebado, e certamente drogado também. Ele ao ligar, acredita que outra pessoa atendeu o telefone, devido a sua falta de consciencia, já estava fora de realidade.
 Laura irritada, pede para que ele não volte para casa, pois ela não queria o ver, bêbado daquele jeito.
 Minutos se passaram quando ele toca na casa dela, ela saindo do banho demora para abrir a porta, e já saturada, arruma as coisas dele, para que ele realmente não ficasse ali com ela.
 Foi quando ela abriu a porta de casa, e ele em ato desmedido, entrou já forçando a porta, quebrando tudo pelo caminho, a segurando pelos cabelos e questionando aonde estaria 'ele [um suportamente outro, amante]', ele revista a casa, e começa a surrá-la.
 Segura sua cabeça pelos cabelos e começa a batê-la contra a parede, a segura seus pulsos e braços com força, perguntando aonde estava o outro cara, a estrangulava, sendo que ele mesmo viu que não havia mais ninguém na casa. Laura teve certeza, quando olhou em seus olhos, que iria morrer, ele não estava em consciência do que estava fazendo.
 Ele estava cego de ciúmes, louco, drogados, bêbado, não sei, nada justifica sua atitude, e mesmo depois das percepções de que não havia ninguém lá, ele em surto, continuou agredindo-a, em alternâncias de surto, ora enraivecido, ora se dando conta do que fizerá e pedindo desculpas. Acredito que quanto mais ele se dava conta da besteira que fez, se enraivecia e com medo de perdê-la, a agredia mais.
 Acho que ele pensou que poderia forçá-la a ficar com ele, e a prendê-la, e assim foi, um longo momento, quase uma hora de tortura. Ela pedindo para ele sair de sua casa, e ele descontrolado, intercalando agressões com choros incessantes, foi uma tortura.
 Até que, em um momento de descuido dele, Laura conseguiu fugir de casa, e foi para a rua, pedir ajuda.  Fico inconformada, desconsolada, assim, não me cabem palavras, pra mostrar minha indignação em relação a isto. Ninguém se prontificou a ajudá-la, nem mesmo a própria polícia. Todos se evadiram desta função. E lá mais uma vez, encontrava-se Laura, sozinha, indefesa, vítima de covardia mais uma vez.
Leonardo estava lá, em seu apartamento, surtado, sem querer sair, agredindo-na, e todos que podiam fazer alguma coisa, simplesmente se abstiveram e lavaram as mãos.

Agora, aqui encontra-se Laura, mais uma vez destruida, toda machucada, o corpo inteiro com marcas, e principalmente, com a alma ferida.
Ela se pergunta o que fez pra merecer tamanha agressão, tanto física quanto psicológica, quando não fez NADA! 
"Porque só atraio gente maluca?" se pergunta.
Preciso rever meus critérios, acredito que por querer ajudar os outros, acabamos nos colocando em situações em que entramos em perigo.  Ninguém é 100% bom, nem 100% ruim, mas acho que não devemos nos deixar levar tanto pela pena e a vontade de ajudar os outros, quando muitas vezes estes não querem ser ajudados ou não podem ser ajudados.
Temos aqui uma pessoa com problemas notórios, Leonardo.
Quer seja apenas um fruto podre de uma familia desestruturada, de uma sociedade corrompida, ou fruto de uma auto construção deturpada... a questão é...  eis um problema... Um problema que já não é meu...
Ele quase me matou, de fato... Contudo, eu o matei por completo dentro de mim.
Adeus.


Laila